Quando conheci seu pai filho, ele já tinha "morrido" uma vez.
Todo mundo em Governador Valadares conhece essa história. Ele caiu do quarto andar do prédio que morava, quando tinha 20 anos. Não se lembrava de nada, ficou em coma muitos dias, fez cirurgias pesadas, foi desenganado, e se saísse do quadro que se encontrava, sofreria sequelas. Eu não o conhecia, nem fiquei sabendo desse acidente. Para você ter idéia da seriedade, comemorávamos aniversário de renascimento todo dia 15/03.
Eu adorava quando ele se lembrava de uma parte esquecida dessa experiência; Como era gostoso ouvir suas histórias. Era com sorriso largo no rosto que me contava da gratidão que tinha pela Biba Homaidan, que levava almoço para seus pais todo dia no hospital; dos amigos que se revezavam em orações e visitas. Tinha prazer de contar as proezas da Banda Kartel (Cello, Marcio e Rodrigo), esse quadro ficava no corredor de casa, foi duro reencontra-lo. Com vaidade, ele me mostrava os ingressos que guardou, e as fotos da festa "Viva Bruno", que seus amigos fizeram para ajudar nas despesas do hospital. Você vai ler os bilhetes, as cartas, tanta coisa bonita, filho. Se emocionava quando falava do pai, vovô Netinho, que não saiu do hospital nenhum dia: " Só saio daqui com o Bruno, vivo ou morto".
Ele agradecia sempre sua tia Mirella, que cuidou dele como um filho, e tinha uma compaixão que eu admirava pela mãe, vovó Gilda, talvez por pressentir o quanto ainda a faria sofrer.
Seu pai sabia, que tudo que passou, doeu mais em quem o amava do que nele mesmo. Tio Dante vai te confirmar isso.
Tinha uma história bonita, ele foi um universo de intensidade.
A alma dele é linda demais, lutou para viver e morreu de bem com a vida.
Não aceitou ir embora sem antes deixar você, uma parte dele, para continuar sendo lembrado. Como se fosse possível alguém esquecê-lo.
Eu tenho orgulho de saber que você terá portas e braços abertos por onde passar. Ele deixou o caminho iluminado, e o sinal verde para quem quiser chegar até você.
Usava a voz, que nem era o que tinha de melhor, para tocar as pessoas. Dono de um carisma envolvente, um jeito só dele de se exibir. Era mesmo um estilo Bruno Ferreguetti de ser. De quem sou fã.
Hoje, eu canto para você, filho.
Inacreditável, mas minha voz encanta seus ouvidos.
Nossa estrela, em silêncio, acompanha o ritmo de nossas vidas.
Como lhe sobrava o bom humor, aposto que deve está pensando que deveria ter me ensinado a cantar.