Não contei nada pra você sobre o dia do enterro do seu pai.
É que ainda não consegui organizar o que ficou na memória, não consegui fazer uma leitura menos dramática, nem menos dolorida.
Parece incrível que diante de tantas providências a serem tomadas, você tão pequeno, e o corpo dele distante de Juiz de Fora, eu ainda tenha conseguido pensar numa despedida. Enterrei junto com seu pai nosso vinil do Grand Funk, segurei sua mão direita, entrelaçando seus dedos nos meus, fechei meus olhos repassando todas as noites que nós os ouvimos. Em silêncio, cantei The Loco-Motion. Nesse dia a vida me ensinou o senso de oportunidade. Vesti-me com tudo que traduzia Bruno Ferreguetti Mendes. Era preciso, não podia ficar para depois. Não teria outra oportunidade de mostrar a seu pai o quanto eu o amava, e tinha a agradecer.